A beleza onde ela está

  Eu estava em um self-drive safari, explorando por minha conta o vasto Addo Elephant Park, na África do Sul. O plano era simples: fotografar todos os animais que cruzassem meu caminho. Mas confesso que fiquei um tanto frustrado quando as primeiras gotas de chuva começaram a cair. Naquele momento, imaginei que tudo estava arruinado. A chuva, pensei, não só afugentaria os animais, mas também comprometeria a qualidade das fotografias que eu tanto ansiava capturar.

    Ledo engano.

  A natureza, com sua própria lógica e ritmo, sempre nos ensina. Para os habitantes daquele ecossistema, a chuva não era um contratempo. Pelo contrário, era parte da rotina. Ali estavam eles, em casa, como sempre estiveram. Para mim, parecia uma adversidade; para eles, era apenas um banho de chuva.

  Foi então que compartilhei com um pequeno Grande Kudu aquele momento único. Sob a chuva que caía suavemente, observei aquele majestoso antílope se mover com uma tranquilidade quase meditativa. A água escorrendo pelo seu pelo criava reflexos que eu nunca teria imaginado capturar. As gotas, antes um incômodo, agora acrescentavam uma beleza inesperada às fotografias, como se fossem diamantes caindo do céu.

   Mais do que as imagens que capturei, foi a experiência que ficou. Estar ali, testemunhando esses animais em seu habitat natural, vivendo como deveriam, é algo que nenhuma lente ou palavras podem traduzir completamente. É uma lembrança que carrego comigo: a lição de que a natureza não se adapta às nossas expectativas; nós é que precisamos nos ajustar ao que ela oferece, aceitando e aprendendo com cada momento.

   A fotografia que capturei nesse dia é um reflexo disso. Não foi apenas uma imagem, mas uma história — de simplicidade e beleza inesperada. Afinal, não são as adversidades que definem a jornada, mas como escolhemos enxergá-las.